quinta-feira, 28 de novembro de 2013
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
O exemplo é o melhor dos mestres
Carlota Crippa
Das pequenas histórias que
Dom Bosco contava para educar seus jovens, tiramos este breve conto.
Numa cabana em meio a
um agradável bosque morava, com sua família, um velho camponês, alquebrado
pelos anos. Quem sabe ele próprio a edificara, ou ao menos ajudara na sua
construção. Mas depois ficara tão, tão velhinho, quase surdo, com pouquíssima
visão, de joelhos trêmulos, que quase não servia mais para nada. Vivia ele,
assim, vagando de um canto a outro da casa, solitário com suas recordações, sem
ter com quem conversar nem com que se distrair.
Quando, à noite, todos
sentavam-se à mesa para tomar um bom prato de sopa reforçada com uma farta
fatia de pão, o pobre velhinho tremia tanto, tanto, que derramava mais sopa do
que conseguia tomar. Sujava a camisa e a toalha. E logo a nora, impaciente e
mal-humorada, zangava-se e lhe dizia palavras ásperas.
Um dia, o filho,
irritado ele também, com as debilidades senis do pai, cedeu às insistências da
esposa. Obrigaram o velho a, daí em diante, fazer as refeições sentado num
canto atrás do fogão, comendo numa tigela de barro. E davam-lhe tão pouca coisa
que o coitado estava sempre com fome...
De seu canto, com sua
pouca visão, ele levantava os olhos para espiar a família reunida à mesa. Com a
mão trêmula, levava a colher à boca e engolia a sopa misturada com suas
lágrimas.
Certa vez, a mão
tremeu-lhe tanto que a tigela caiu e se quebrou. A nora repreendeu-o com
brutalidade. Ele, na sua triste situação, nada pôde responder. No dia seguinte,
ela comprou-lhe uma gamela de madeira, das mais ordinárias que havia na
vendinha do carpinteiro, para substituir a tigela de barro.
O neto do velho, um
menino vivo, de seus oito anos, costumava brincar próximo ao fogão. Gostava de
correr pelo bosque e construía seus próprios brinquedos com os galhos de árvore
e pedras que recolhia pelo caminho. Certo dia, ele parecia estar brincando com
uns paus, mas fazia algo que não era um brinquedo. Intrigado e curioso, seu pai
perguntou-lhe:
— O que você está
fazendo, meu filho?
— Estou fazendo um
cocho, papai, para o senhor e a mamãe comerem quando ficarem velhinhos —
respondeu o rapaz.
Marido e mulher se
olharam por algum tempo e desataram a chorar. Lembraram-se, então, da frase do
Eclesiastes, que reflete o 4º mandamento: “O que honra seu pai encontrará
alegria nos seus filhos” (Ecli 3, 6). Deram-se conta de que as crianças prestam
muita atenção no que vêem, analisam e tiram conclusões... E de que o exemplo —
bom ou mau — é o mais poderoso dos mestres.
Resultado, atiraram ao
fogo a gamela de madeira e trouxeram o velhinho de volta para seu lugar de honra
à mesa, dando-lhe uma bela tigela nova e sempre cheia de sopa.
A nora fez uns grandes
guardanapos para ele e, daí por diante, quando a trêmula mão derramava a sopa,
fingiam não ver e nada diziam.
A boa ordem familiar
voltou àquela cabana. E o coração do velho encheu-se da alegria de sentir-se
novamente estimado e respeitado por aqueles a quem amava e por quem havia
trabalhado e sofrido ao longo de sua vida. O exemplo dado nas boas ações tem
muito mais força do que qualquer discurso, por mais erudito que seja...
Revista Arautos do Evangelho n.15. março 2013
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
A santidade e a esperança
Durante
o feriado, foi realizado, em Joinville, um simpósio sobre as
virtudes teologais ilustrado com representações teatrais. Neste post, trataremos sobre a esperança.
Certa
vez perguntaram ao fundador dos Arautos do Evangelho Mons. João Clá
Dias : o que eu devo fazer para ser santa? Monsenhor respondeu: Nunca
perder a esperança e ter a esperança sempre no maior dos limites,
jamais desanimar na vida!
A santidade é a prática em
grau heróico das três virtudes teologais — Fé, Esperança e
Caridade —, das quatro cardeais e das que delas decorrem. As
virtudes teologais nos orientam para o Céu; as cardeais nos indicam,
tendo em vista a bem-aventurança eterna, como deve ser nossa atitude
face às coisas da Terra.
“As virtudes são irmãs
indissociáveis”, todas andam como que de mãos dadas para
apoiarem-se uma nas outras; portanto, quando se pratica uma virtude,
as demais crescem junto. Como dizia São Tomás: “A fé gerou a
esperança; a esperança, a caridade”
Mas,
o
que é a esperança?
Ensina-nos a teologia que a
esperança “é uma virtude teologal infundida por Deus na vontade e
pela qual confiamos, com plena certeza, alcançar a vida eterna e os
meios necessários para chegar a ela apoiados no auxílio onipotente
de Deus”.
Em
geral, só se espera um bem, ausente e de difícil alcance. O
mal não se espera, se teme, o bem presente se goza.
A esperança é, pois, um
movimento pelo qual temos a certeza de que a Providência não nos
abandonará, mas, pelo contrário, levantará todos os obstáculos
que surgirem no caminho da nossa salvação, e nos proporcionará
inclusive os meios materiais deste mundo que nos facilite a
santidade.
À medida em que se avança na
prática desta virtude, a alma se desprende de todas as coisas
terrenas e eleva seu pensamento à soberana formosura de Deus. Nada detém a alma
que encetou o caminho da união com Deus, pois Ele
lhe estende a mão, sinal absoluto da garantia de sua onipotência,
misericórdia e fidelidade à suas promessas.
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Como enfrentar a morte?
Naturalmente
todos nós sentimos um terror diante da morte. Como se explica,
então, o fato de tantos mártires caminharem felizes ao encontro
dela? O martírio, esse foi o tema abordado com as jovens do Projeto
Futuro e Vida. E para exemplificar foi contado e encenado o martírio
de Santa Cecília que narraremos a seguir.
Mártir
dos primeiros tempos do cristianismo, sua história nos chega com
detalhes de difícil comprovação, tornando complicado distinguir o
que foi acrescentado ao longo dos séculos, embora o relato de seu
martírio conste já em documentos do século IV. Santa Cecília
enfrentou os duros tempos de perseguição aos cristãos, sempre
tocando sua harpa ou cítara para acompanhar suas melodiosas canções.
Era este seu modo de expressar aquele amor de Deus que abrasava sua
alma pura e virginal.
Desde
muito menina, Cecília via as belezas do universo como símbolo da
grandeza de Deus. Alma contemplativa, vendo o nascer ou o pôr-do-sol,
as estrelas ou mesmo as variações das estações, mantinha o
espírito voltado para Deus e exclamava: “Oh! Quão grande e bom é
o Senhor! Quero amá-Lo sempre. Quero amá-Lo, muito!...”
Converteu
seu marido e o irmão deste ao cristianismo. Após do martírio dos
dois Cecilia avisada, previu que seria ela a próxima vítima da
cruel perseguição. Distribuiu todos os seus bens e entregou seu
palácio ao Papa, para ser transformado numa igreja. Capturada,
deixou seu perseguidor furioso com suas sábias respostas cheias de
fé e de amor a Deus, e foi condenada a morrer sufocada pelos vapores
das caldeiras do próprio palácio. Depois de um dia e uma noite
dentro de um recinto hermeticamente fechado, foi ela encontrada viva,
cantando e sorrindo, em meio a um ar fresco.
Decidiu-se,
então, que devia morrer decapitada. Mas o carrasco, ao ver aquela
jovem que, com a fortaleza de um guerreiro que entra no campo de
batalha, oferecia o pescoço com tanto desejo de morrer, vacilou...
deu-lhe um golpe, mas não a matou. Depois um segundo e um terceiro
golpe, sofrendo Cecília feridas tremendas. A santa caiu, mas a
cabeça continuou prodigiosamente unida ao corpo. A lei romana
proibia dar um quarto golpe e o carrasco, cheio de espanto, fugiu.
Três
dias passou Cecília entre a vida e a morte, sendo afinal encontrada
pelos cristãos, que se apressaram em chamar o Sumo Pontífice. Este
ainda teve tempo de ministrar-lhe os últimos sacramentos. Para
manifestar sua fé na Unidade e Trindade de Deus, Santa Cecília
mostrava àqueles que a assistiam o polegar de uma mão e três dedos
de outra. Depois inclinando a cabeça, expirou.
O
martírio de Santa Cecilia é para nós um modelo de como
enfrentarmos o momento de nossa própria morte. Tenhamos esse
espírito de confiança e humildade manifestado por Santa Cecília.
Nunca
imaginemos que, por sermos cristãos, devotos de Maria Santíssima e
praticarmos boas obras, não seremos tentados nem fraquejaremos na
última hora. Devemos, sim, pedir a graça de sermos vigilantes sobre
nós mesmos, a graça de resistir sempre à tentação quando esta se
apresente, compreendendo que o espírito pode estar pronto, mas a
carne é fraca.
De
modo especial peçamos a Nossa Senhora que nos assista com sua
misericórdia no momento de deixarmos este mundo rumo à eternidade.
A graça de termos uma boa morte deve ser pedida com toda a
insistência, pois não sabemos o que pode nos suceder no derradeiro
instante de nossa vida.
Imploremos,
pois, essa confiança em Deus e esse auxílio sobrenatural do Céu,
único remédio para evitarmos o terror malsão diante da morte.
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quinta-feira, 14 de novembro de 2013
O Sinal-da-Cruz
Diácono
Felipe Ramos
Simples
de fazer, ele nos defende do mal, protege contra as investidas do
demônio e nos obtém valiosas graças de Deus
Em
fins do quarto século, a grande multidão reunida em torno de um
gigantesco pinheiro aguardava o desfecho de um empolgante episódio.
O bispo São Martinho de Tours havia feito derrubar um templo pagão
e decidira cortar o pinheiro que se encontrava próximo ao local e
era objeto de culto idolátrico. A isto se opuseram numerosos pagãos
que lançaram um desafio: consentiriam no abate da “árvore
sagrada” se o Santo, como prova de sua confiança em Cristo,
estivesse disposto a ficar amarrado debaixo dela enquanto eles
próprios a cortassem.
Assim
foi feito. E vigorosos golpes de machado em pouco tempo fizeram o
tronco começar a pender em direção à cabeça do homem de Deus.
Rejubilavam-se ferozmente os pagãos, enquanto os cristãos olhavam
com angústia para seu santo bispo. Este fez o sinal-da-cruz e o
pinheiro, como que soprado por uma potente rajada de vento... caiu do
outro lado sobre alguns dos mais ferrenhos inimigos da Fé. Nessa
ocasião, muitos se converteram à Igreja de Cristo.
Remonta
ao tempo dos Apóstolos
Segundo
a tradição, corroborada pelos Padres da Igreja, o sinal-da-cruz
remonta ao tempo dos Apóstolos. Alguns afirmam que o próprio
Cristo, durante a sua gloriosa Ascensão, abençoou os discípulos
com este símbolo de sua Paixão Redentora. Os Apóstolos e demais
discípulos teriam, por conseguinte, propagado esta devoção em suas
missões
Já
no século II, Tertuliano, o primeiro escritor cristão de língua
latina, exortava: “Para todas as nossas ações, quando entramos ou
saímos, quando nos vestimos ou tomamos banho, estando à mesa ou
acendendo as velas, quando vamos dormir ou nos sentar, no início de
nossas obras, façamos o sinal-da-cruz”.
Este
bendito sinal é ocasião de graças tanto nos momentos mais
importantes quanto nos mais corriqueiros da vida cristã. Ele se nos
apresenta, por exemplo, em diversos sacramentos: no Batismo,
assinalando com a cruz de Cristo aquele que vai Lhe pertencer; na
Confirmação, quando recebemos na fronte os santos óleos; ou ainda,
nas horas derradeiras, quando somos agraciados com a Unção dos
Enfermos. Persignamo-nos no início e no fim das orações, ao passar
diante de uma igreja, ao receber a bênção sacerdotal, ao iniciar
uma viagem, etc.
O
sinal-da-cruz tem inúmeros significados, dentre os quais se destacam
os seguintes: um ato de entrega a Jesus Cristo, uma renovação do
Batismo e uma proclamação das principais verdades de nossa Fé: a
Santíssima Trindade e a Redenção.
Benéficos
efeitos
O
sinal-da-cruz é o mais antigo e o principal sacramental, isto é, um
“sinal sagrado”, mediante o qual, à imitação dos sacramentos,
“são significados principalmente efeitos espirituais que se
alcançam por súplica da Igreja” (CIC, cân. 1166). Ele nos
defende do mal, protege contra as investidas do demônio e nos obtém
graças de Deus. São Gaudêncio (séc. IV) afirma que, em todas as
circunstâncias, ele é “uma invencível armadura dos cristãos”.
Aos
fiéis que se mostravam perturbados ou tentados, os Padres da Igreja
aconselhavam o sinal-da-cruz como solução de eficácia garantida.
São
Bento de Núrsia, após viver por três anos como ermitão em
Subiaco, foi procurado pelos monges de um mosteiro próximo dali,
cujo abade falecera, os quais, depois de muita insistência,
conseguiram que ele concordasse em assumir esse cargo. Em breve,
porém, arrependeram-se ao constatar que o novo abade não lhes
permitia levar a vida relaxada de antes, e combinaram de matá-lo.
Nesse criminoso intuito, apresentaram-lhe uma jarra de vinho
envenenado. Quando, conforme seu costume, o homem de Deus traçou
sobre ela o sinal-da-cruz, ela se desfez em pedaços.
*
* *
Ave,
ó Cruz, nossa única esperança! Na Cruz de Cristo, e só nela,
devemos confiar. Se ela nos sustenta, não cairemos; se ela é nosso
amparo, não desesperaremos; se ela é nossa força, o que poderemos
temer?
Seguindo
o conselho dos Padres da Igreja, jamais tenhamos respeito humano ou
negligência em utilizar este eficaz sacramental, pois ele será
sempre nosso refúgio e proteção.
Revista
Arautos do Evangelho n.43. jul 2005
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
A obediência de Maria em Belém
A obediência de Maria
inspirou a concepção do Verbo de Deus; a obediência de Maria
presidirá também ao nascimento do Salvador dos homens.
Façamos em espírito uma
visita a Belém: Maria e José, vindos para o recenseamento imposto
por Augusto, procuram uma casa para abrigar sua pobreza. Por toda
parte, as portas se fecham diante deles. Estão no isolamento e no
infortúnio. Maria não reclama, pois vê nessa provação a
manifestação da vontade divina. Obedece com humildade e Se refugia
num estábulo. Ali se completa o grande mistério de amor. Logo Maria
envolve em seus trêmulos braços o Verbo de Luz. Como berço, a
Providência oferece apenas uma manjedoura; e como vestimentas, a
mais absoluta privação. Maria obedece sempre e, sussurrando o
“Fiat” da Encarnação, embala seu recém-nascido.
No quadragésimo dia após o
nascimento de Jesus, a voz de Deus de novo fala a Maria e A convida a
Se purificar no Templo. Mas, como essa lei poderia atingir a Virgem
Imaculada, cuja maternidade milagrosa não tinha qualquer resquício
da mancha original? Pouco importa! Deus falou, Maria obedece e Se
junta às outras mães, para compartilhar a humilhação. “Fiat
mihi secundum verbum tuum”.
Ei-La, enfim, na paz de
Nazaré. Maria poderá livremente prodigalizar a seu Divino Filho
todas as efusões de sua ternura. Infelizmente, não! Aparece
novamente o Anjo do Senhor e comunica a ordem de partir para o Egito.
Um cruel tirano, Herodes, tramou a morte de Jesus. É o exílio, com
suas incertezas e seus perigos. Maria, entretanto, não cessa de
obedecer: repetindo seu “Fiat”, Ela aperta a seu coração
angustiado o doce Salvador do mundo e foge a toda pressa para a terra
do Egito.
L’Ami
du Clergé Paroissial”, 1905, pp. 529-530 In Revista Arautos do
Evangelho n.53. Maio 2006
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sujeitar-se à lei
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Uma canção para Mr. Petterson
Ir.
Inês Tammie Bonyun,EP
Como poderia o coro
dos meninos órfãos de Northampton cantar na Missa do Galo, sem a
presença do regente, Mr. Petterson? Mas uma canção de Natal fez
“um milagre”...
Afundando os pés na
neve, o pequeno Daniel tiritava de frio e procurava proteger as mãos
nos bolsos do seu surrado casaco. Logo avistou seus amigos e, após
rápidos cumprimentos, caminharam para seu objetivo: as casas
abastadas do bairro rico de Northampton.
— Vamos começar
aqui — disse Francis, o mais velho deles.
Bateram à porta da
primeira casa, e quando esta se abriu, começaram a cantar:
“O holy night!
The stars are brightly shining; It is the night of the dear Saviour’s
birth…”
Uma elegante senhora
os atendeu sorrindo, encantada com a música. Quando Daniel estendeu
o seu chapéu, deu-lhe duas moedas de prata. Os meninos agradeceram
contentes, e saíram para a próxima casa.
— Começamos bem!
Se todo mundo der tanto assim, já está garantida a ceia de Natal
dos meninos órfãos!
Com essas palavras,
Francis tentava animar os outros, mas os sorrisos eram fracos. Sobre
eles pairava uma sombra de tristeza: era o primeiro ano em que Mr.
Pette não estaria presente.
* * *
Quem era Mr. Pette?
Décadas atrás, no
começo do reinado da rainha Vitória, a família Petterson emigrara
da Áustria para a Inglaterra. Eduard, o filho único, herdou de seus
pais o amor à música, tão característico dos austríacos, e
tornou-se o melhor professor de canto da região. Até as famílias
dos condados vizinhos enviavam seus filhos para aperfeiçoarem a voz
com o Prof. Eduard Petterson, ou, como lhe chamavam carinhosamente os
meninos, Mr. Pette.
Sim, ele era uma
pessoa muito querida. Sobretudo depois que formou um coro com os
meninos órfãos do condado. Para aqueles pequenos, a música de Mr.
Petterson tinha aberto uma porta para a alegria. As pessoas se
comoviam ao ouvi-los. No tempo do Natal eles cantavam em várias
igrejas, mas o auge era a Missa do Galo, na catedral. Com o dinheiro
assim arrecadado, preparavam uma ceia para os órfãos da cidade, na
qual Mr. Pette sempre estava presente.
Passaram-se os anos,
e lentamente os cabelos brancos foram aureolando a face do bom
mestre. Alguns de seus ex-alunos chegaram a cantar em coros
importantes, até mesmo em Londres. Mas, naquele ano ele estava
especialmente satisfeito, pois o pequeno Daniel, seu mais novo aluno,
possuía a melhor voz que ele até então ouvira.
— É um anjo!
Ainda vai cantar para a rainha! — dizia.
E assim, preparou
cuidadosamente Daniel para apresentar alguns “solos”. As notícias
correm velozes em cidades pequenas, e muitos ficaram sabendo da
revelação que Mr. Petterson preparava para aquele ano. Portanto, os
habitantes de Northampton já esperavam, entre as alegrias do Natal,
ouvir cantar o menino a quem a Providência concedera uma voz
angélica.
Tudo parecia
perfeito, quando, nos primeiros dias de dezembro, aconteceu a
catástrofe... Numa manhã, ao sair de casa, Mr. Petterson caiu ao
chão, fulminado por uma apoplexia. Levado sem demora para o hospital
próximo, foi possível salvar-lhe a vida, porém, desde esse dia,
ele permaneceu imóvel em completa letargia. O médico não escondeu
a gravidade da situação: “Se nos próximos dias ele não reagir,
jamais voltará ao normal. Irá lentamente definhando, até...” Não
ousou completar a frase.
* * *
Com razão, pois, os
meninos andavam entristecidos, pelo dramático acidente de seu
querido professor. Além disso, como iriam eles ter a ousadia de
cantar em público, sem a regência do mestre que lhes transmitia
segurança?
Reuniram-se no salão
da catedral, na hora do ensaio habitual. Ao contrário dos encontros
normais, marcados por risadas e conversas em voz alta, naquele o
ambiente era soturno. Em certo momento, chegaram alguns que haviam
ido visitar Mr. Petterson no hospital, trazendo notícias nada
animadoras: ele mal conseguia mover os olhos, nem sabiam se os tinha
reconhecido ou não.
Por fim, um deles
falou:
— Temos de ver o
problema de frente. Pode ser que Mr. Pette não melhore até o Natal.
Pode ser que... que...
— Mas então, como
vamos cantar na Missa do Galo? E se acontecer o pior, o coro vai
terminar? — perguntou, com voz trêmula, um dos pequenos.
— Não! Nós temos
que cantar neste Natal! E se Mr. Pette não estiver, talvez...
talvez... O Francis! Sim, ele já tem 19 anos e regeu o coro uma vez,
quando Mr. Pette viajou para Londres!
Todos os olhares se
dirigiram para Francis, mas ele encolheu-se.
— Reger o coro,
eu? Na catedral, diante da cidade inteira? Não… não consigo…
As opiniões se
dividiram. Eram problemas demais para cabeças tão jovens. Num
canto, o pequeno Daniel ouvia tudo em silêncio, os olhos brilhando
com as lágrimas mal contidas. Sem os outros perceberem, saiu
discretamente do salão e dirigiu-se ao interior da igreja para fazer
o que aprendera com sua falecida mãe: rezar diante do presépio.
Enquanto orava,
prestou atenção nas imagens dos anjinhos músicos e pensou: “É,
eles tocam e cantam felizes porque estão à espera de alguém muito
querido que vai chegar. E nós estamos tristes porque aquele a quem
tanto queremos está indo embora...”
Em certo momento,
teve uma ideia e voltou apressadamente para o salão.
* * *
Uma fraca luz
iluminava o quarto do hospital onde a enfermeira olhava sem muita
esperança a fisionomia pálida de Mr. Pette. “Pobre homem —
pensava ela — o que poderá tirá-lo desse letargo?”
Nisso, as notas
harmoniosas de uma música encheram o ambiente. Abriu a janela e,
surpresa, viu um grupo de meninos que cantavam ali, a menos de dois
metros da cabeceira do doente:
“A thrill of
hope the weary world rejoices, For yonder breaks a new and glorious
morn…”
Que melodia
maravilhosa! Mas ali era um hospital... e seu dever era impor
silêncio aos pequenos cantores. Quando ia fazê-lo com um enérgico
gesto, um gemido do enfermo lhe chamou a atenção. Mr. Petterson
havia despertado! Estava consciente! O misterioso dom que envolve as
melodias conseguira tirar da letargia aquele homem que dedicara sua
vida à música e aos pobres órfãos.
Do lado de fora,
Daniel e seus amigos cantavam com toda a força, e com o máximo de
perfeição. Pela reação favorável da enfermeira, ele percebeu que
seu plano dera resultado, e sentiu as lágrimas brotarem de seus
olhos.
* * *
Na Missa do Galo,
não havia espaço nem para um alfinete, na catedral de Northampton.
Francis regia com desenvoltura o coro, que cantava radiante. Sentado
numa cadeira de rodas bem na frente, Mr. Petterson aprovava, acenando
com a cabeça.
Quando Daniel entoou
o solo que lhe cabia na peça, os assistentes pareciam reter a
respiração, ouvindo sua voz cristalina e inocente ecoar pelas
ogivas:
O night divine,
the night when Christ was born, O night, o holy night, o night
divine!
Seu querido mestre
sorria, encantado. Mas o pequeno solista olhava sobretudo para o
Menino Jesus no presépio, para os anjinhos músicos, e pensava:
“Sim, os anjinhos... A música opera milagres, mas ela certamente
não o faz sozinha!”
Revista Arautos do Evangelho n.60. dez 2006
Revista Arautos do Evangelho n.60. dez 2006
Apresentação Musical na catequese da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
A inveja
Afirma
o Apóstolo São Tiago: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão
as desordens e toda espécie de obras más” (Tg 3, 16). Com efeito,
é a inveja um dos vícios mais perniciosos. Quem por ela se deixa
levar, não conhece a felicidade. O invejoso está sempre se
comparando com os outros, e quando se depara com quem o supera em
qualquer ponto, logo se pergunta: “Por que ele é mais e eu menos?
Por que ele tem e eu não?”. Essa atitude torna ácida e amargurada
a sua vida, causando toda espécie de dissabores.
Esse
foi o tema da peça teatral encenada pelas jovens do Projeto Futuro e
Vida. Depois de muito treino, elas se esforçaram para fazer uma boa
apresentação do “Castigo de Lucrécia” que, por sinal, agradou
bastante o público. A história era de uma rainha que confiava muito em sua dama, mas por inveja esta foi
caluniada e condenada à morte. Prepararam um plano com a padeira para jogá-la no forno. Entretanto, Deus vela por seus filhos e devido a um mal entendido a traidora foi lançada no forno.
domingo, 3 de novembro de 2013
Simpósio sobre os Sacramentos
Continuando com as exposições feitas pelo Pe Ricardo Basso, EP durante o simpósio sobre os sacramentos, transcrevemos algumas considerações a respeito da Eucaristia.
TOMAI E
COMEI
“Com que ardor deseja Jesus Cristo
vir a nós pela santa Comunhão! ”Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco
antes de sofrer”. Desejei ardentemente, falou ele naquela noite em que
instituiu este sacramento de amor. Diz São Lourenço Justiniano: O amor que nos
tinha o forçou a falar assim.
Para que facilmente cada um
pudesse recebê-lo, quis ficar sob as aparências de pão. Se ele tivesse ficado
sob a aparência de algum alimento raro, ou de preço elevado, os pobres ficariam
privados dele. Mas não, Jesus quis ficar sob as aparências de pão: custa pouco,
em toda parte se encontra, todos poderão achá-lo e recebê-lo em qualquer lugar
do mundo.
Para que nos animemos a recebê-lo
na Sagrada Comunhão ele nos exorta com muitos convites: “Vinde comer o pão e
beber o vinho que vos preparei. Comei, amigos e bebei”, referindo-se à
eucaristia. Impõe-nos ainda como preceito: “Tomai e comei: isto é o meu corpo”.
Atrai-nos ainda com a promessa do paraíso para que o recebamos: “Quem come a
minha carne, tem a vida eterna. Quem come este pão viverá para sempre”.
Ameaça-nos com o inferno, com a exclusão do céu, se nos recusarmos a comungar:
“se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não
tereis a vida em vós”. Estes convites, promessas e ameaças, nascem todos do
grande desejo que ele tem de vir a nós neste Sacramento.
Mas por que Jesus Cristo deseja
tanto que o recebamos na Sagrada Comunhão? Eis a razão. Diz São Dionísio que o
amor sempre aspira e tende à união.
Os amigos, que se amam de coração,
querem estar unidos de tal modo que formem uma só pessoa, diz Santo Tomás. Ora,
isto fez o imenso amor de Deus para com os homens.Deus não só se dá a eles no
reino eterno, mas já neste mundo se deixa possuir pelos homens na união mais
íntima possível. Dá-se todo sob as aparências de pão no sacramento da
Eucaristia. Ali está como atrás de um muro e dali nos olha como através de
apertadas grades: "Ei-lo atrás de nossas paredes, olhando pelas janelas,
espreitando pelas grades". Ainda que nós não o vejamos, ele de lá nos observa e
lá está realmente presente. Está presente para deixar-se possuir por nós mas se
esconde para que o desejemos. Enquanto não chegamos até o paraíso, Jesus Cristo
quer dar-se todo a nós e estar intimamente unido conosco.
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Regina Virginum
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