Francisco Abdala era um
próspero comerciante de tecidos do sul da Espanha. De antiga estirpe muçulmana
convertida ao Cristianismo, destacava-se por ser homem piedoso e caritativo.
Não tinha filhos, mas adotou suas três pequenas sobrinhas órfãs, das quais
cuidava com carinho e solicitude.
As meninas adaptaram-se sem
dificuldade ao novo lar. Elas recebiam uma educação primorosa, estudavam num
bom colégio e, sobretudo, eram instruídas na Fé. Logo que lhes foi permitido,
fizeram a Primeira Comunhão.
Com o passar dos anos, foi-se
acentuando a diferença de caráter entre elas. Maria, a mais velha, afável e
caridosa, estava sempre preocupada com os outros; Laura, a do meio, gostava de
se enfeitar e chamar a atenção sobre si; e Catarina, a caçula, mostrava
preocupante propensão para o egoísmo.
— Minhas queridas, vocês sabem
o quanto as amo e como as tenho por verdadeiras filhas. Preciso partir para uma
longa viagem e não sei quando hei de retornar. Mas, graças a Deus, vocês já
estão bem crescidas e saberão dar bom rumo às suas vidas, caso não nos voltemos
a ver. Nunca deixem de frequentar os Sacramentos, tenham compaixão dos mais
necessitados, rezem sempre e confiem na misericórdia de Nossa Senhora, que é
nossa Mãe e nunca nos desampara.
As moças tinham lágrimas nos
olhos e Francisco também sentiu a voz embargada pela emoção. Mas logo se
recompôs e continuou:
— Sempre trabalhei muito e vou
deixar-lhes uma boa quantia para vocês poderem viver sem qualquer preocupação
durante minha ausência. Ali, em cima daquela cômoda, estão três bolsas cheias
de moedas de ouro. Façam bom uso delas, e que a Virgem da Esperança Macarena
nos ajude a todos!
Depois da partida do tio
Francisco, as três jovens tiveram uma longa conversa sobre como organizar a
vida na sua ausência. Laura e Catarina decidiram mudar-se, para morar cada qual
em sua casa própria. Maria tentou dissuadi-las:
— Não façam isso! Morando
juntas, podemos facilmente apoiar-nos umas nas outras!...
Mas seus argumentos foram
inúteis: as duas permaneceram obstinadas em sua má decisão.
Laura logo comprou uma mansão,
contratou empregadas, mandou fazer vistosos vestidos e passava o tempo em
viagens, pois sua única preocupação era gozar a vida.
Catarina, avara e egoísta,
comprou uma casinha, onde vivia com um gatinho, usando roupas não muito limpas.
Enterrou no quintal suas moedas, e às vezes até acontecia de ir dormir com
fome, porque tinha comprado pouco pão... para gastar o menos possível de seu
precioso dinheiro.
Maria continuou vivendo na casa
do velho tio e empregava suas moedas em benefício das crianças órfãs e dos mais
necessitados. Junto ao auxílio material, levava-lhes uma palavra de afeto e
compartilhava com eles alguns momentos de oração. Ajudava muito na paróquia e
era um modelo de piedade para as outras moças.
Passava-se o tempo e o tio
Francisco não dava sinais de vida. As três irmãs se encontravam raramente. Só
Maria procurava visitar as outras. Dava-lhes bons conselhos, tentando fazê-las
voltar à razão. Suas palavras de pouco serviam, mas ela não desanimava. Pelo
contrário, pedia à Virgem da Esperança que intercedesse por elas.
Não demorou muito para Laura
gastar todas as suas moedas de ouro... Começou então a vender as obras de arte
com que tinha adornado sua mansão, mas estas também terminaram. Foi despedindo
as empregadas, uma por uma. Por fim teve de vender a casa, para pagar as
dívidas. Ficou sozinha e sem recursos...
Arrependida, procurou Maria e
pediu-lhe ajuda. Esta a recebeu de braços abertos. Movida pela bondade e pelo
exemplo de sua irmã, Laura fez uma boa confissão, reconciliando-se com Deus por
sua vida dissoluta, e passou a trabalhar com ela em favor dos menos
favorecidos.
Catarina, ao saber da mudança
de vida da irmã, pensou:
— Foi bem feito o que aconteceu
com Laura! Mas Maria segue o mesmo caminho. Do jeito que está, gastando com
“seus” órfãos, daqui a pouco ela também fica sem dinheiro e vem pedir do meu.
Pior ainda... Ela é capaz de saber onde escondi as minhas moedas e... Acho mais
prudente ocultar tudo num lugar mais seguro.
À noite, quando ninguém a via, cavou
depressa um buraco no quintal, ao pé da laranjeira, onde enterrara as moedas de
ouro. Mas... que surpresa! Elas tinham desaparecido! A bolsa estava cheia de
cascalhos! Indignada, começou a gritar:
— Eu sabia! Maria me roubou
para dar aos “seus” pobres!
Nesse instante, ouviu atrás de
si uma voz. Voltou-se e... não viu ninguém! Mas reconheceu claramente a voz do
tio Francisco que a censurava com bondade e tristeza:
— Catarina, Catarina... Por que
acusas uma inocente? Foi a avareza de teu coração que fez as moedas de ouro se
transformarem em cascalhos. Maria não precisa de teu dinheiro. Deixa de
murmurar contra tua irmã, esquece o ouro que enterraste e procura ajuntar para
ti “tesouros no Céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os
ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está
teu coração” (Mt 6, 20-21).
Assustada, a moça começou a
chorar de arrependimento. Correu à casa de sua irmã e contou-lhe o que havia se
passado. Maria também chorava, mas de alegria. Juntas foram à igreja, onde
Catarina se confessou e, a partir daquele momento, passou a levar uma vida
exemplar.
Algum tempo depois, Laura
encontrou um bom esposo, formou um lar e educou os filhos na Religião e no bom
caminho.
Catarina e Maria continuaram juntas.
Usavam sua fortuna para aliviar os pobres, é verdade, e prestavam bons serviços
ao pároco, mas... as palavras do tio Francisco soavam cada vez com maior força
em seus corações: “Procura ajuntar para ti tesouros no Céu”. Assim, um dia,
deram todos os seus bens a uma instituição de caridade e entraram no mosteiro
da Imaculada Conceição. Ali, longe das preocupações terrenas, dedicaram-se a
socorrer, com suas orações e sacrifícios, os necessitados de ajuda espiritual.
Não tardou muito, e Jesus veio convidá-las a ir tomar posse dos tesouros que
haviam juntado no Céu.
Ir. Juliana Montanari, EP - Revista Arautos do Evangelho maio 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário