Para melhor avaliarmos a
extensão e o valor desta caridade consideremos ser ela eterna e não circunscrita
no tempo. O homem pode sentir afeto ou repulsa apenas por objetos cuja existência
conhece. Com Deus, entretanto, o fenômeno dá-se de forma diversa. Ele, afirma
São Tomás, “conhece todas as coisas, não apenas as que existem em ato, como
também aquelas que estão em sua potência ou na potência das criaturas. [...]
Seu olhar recai desde toda eternidade sobre todas as coisas, como estão em sua
presença”. 1
Assim, o Criador nos amou de
modo incalculável muito antes de dar-nos a existência. Considerando o mundo dos
possíveis divinos, escolheu-nos a cada um em particular, tendo-nos presente em
sua Redenção. Pois, acrescenta o Doutor Angélico, “embora as criaturas não
tenham existido desde toda a eternidade, senão em Deus, entretanto, por terem
existido em Deus desde toda a eternidade, Ele as conheceu desde toda a eternidade
em suas próprias naturezas; e por isso mesmo as amou”.2
Não há nenhum indivíduo igual a
outro, porque através da participação exclusiva nos atributos divinos
estabelece-se um relacionamento do Criador conosco, e nosso com Ele, extraordinário,
pessoal e único, que é a melhor das preparações para a eterna bem-aventurança.
Porque Deus não nos ama apenas segundo o bem posto por Ele em nossa natureza humana
ao nos criar, mas de acordo com o estado de perfeição que teremos na Visão
Beatífica — se até lá chegarmos —, purificados pelo Preciosíssimo Sangue da
Redenção.
Em síntese, para o Sagrado
Coração de Jesus cada um de nós é filho, e filho único, amado de forma
inimaginável desde muito antes de nascer!
2 SÃO TOMÁS DE AQUINO.
Suma Teológica. I, q.14, a.13.
3 Idem, ibidem, I, q.20,
a.2, ad.2.
Extraído da Revista Arautos do Evangelho n.126. jun 2012. Mons. João Clá Dias. Comentários a Solenidade do Sagrado Coração
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