A Paróquia
de Nossa Senhora das Vitórias era simples, mas cheia de vida. O padre Maurício sempre
promovia diferentes atividades e incentivava a comemoração das festas dos
santos do calendário litúrgico, contando com o apoio maciço dos fiéis, que além
de participar com piedade dos atos religiosos, engalanavam o templo com flores
silvestres e fitas coloridas. Na catequese, as crianças se preparavam para a
Primeira Comunhão ou para a Confirmação, em grupos animados e dinâmicos. A
frequência aos Sacramentos era intensa e a aldeia era uma das mais tranquilas
da região, pois seus habitantes tinham como lema o mandamento deixado por Nosso
Senhor Jesus Cristo: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12).
Não obstante, um
forte desejo alimentava o coração do bom pároco e dos habitantes do lugar:
construir uma grande e bela igreja em honra da Padroeira, já que o edifício
existente era muito pequeno e estava se deteriorando pelo tempo. Não havia,
porém, meios econômicos para levantá-la...
Ali era uma região um
tanto agreste e, no verão, a seca castigava o povo. Era preciso subir até o
alto de um monte próximo para conseguir um pouco de água no único poço que
abastecia as famílias nessa época. Era um poço antigo, mas nunca havia secado.
No verão daquele ano, entretanto, até ele parecia estar escasseando seu
abastecimento. Houve vezes em que não subiu uma gota d’água sequer no velho
balde de carvalho... Era grave o perigo que corriam, pois, se o poço secasse
iam ficar à míngua.
Num sábado pela
manhã, as crianças chegaram agitadas na catequese, comentando a falta d’água em
suas casas e os problemas que isso estava acarretando. Paulinho, que sempre
fora líder entre todos, tomou a palavra e disse:
― Eu tenho uma
proposta a fazer para resolvermos o problema da água de nossa aldeia.
Os olhinhos curiosos
das crianças se dirigiram para o menino. Até mesmo o padre Maurício queria
saber a sugestão:
― Pois então diga,
Paulinho, qual é sua ideia?
― Por que não fazemos
uma promessa à Virgem das Vitórias, nossa Padroeira? Pedimos a Ela para não
deixar secar o poço e prometemos iniciar a construção da Igreja em sua honra,
no alto do monte.
As crianças
aplaudiram a ideia do companheiro e o sacerdote sorriu comprazido pela fé
daquela alma inocente. Contudo, pensava ele, como conseguiriam os meios para
isso?
E o menino continuou:
― Fazemos a promessa
e, seguros do socorro de Nossa Senhora, começamos uma ampla campanha na aldeia
e por toda a região, em benefício da construção. Estou certo de que Ela nos
atenderá e em breve teremos nossa bela igreja paroquial. Que acham?
Adriana, de apenas
sete anos, aplaudia saltitante, dizendo:
― Isso mesmo! Nunca
se ouviu dizer que alguém tenha pedido algo a Nossa Senhora e não tenha sido
atendido... Ela nos dará a vitória!
O piedoso pároco se
emocionou, pensando: “De fato, Deus escondeu grandes coisas aos sábios e as
revelou aos pequeninos”... Levantando-se, disse animado:
― Pois, então, mãos à
obra! Vamos convocar todos os paroquianos para nossa ousada empresa.
Aquela gente humilde
e cheia de fé iniciou a campanha para cumprir a promessa. Percorriam as ruas,
os campos e as fazendas vizinhas pedindo meios, em dinheiro ou em material de
construção. Logo apareceu um engenheiro da capital que se interessou pelo
projeto e fez os planos do templo. Conseguiu ele doações nos seus meios e os
caminhões começaram a chegar. Tratores subiam o monte do poço, preparavam-se os
fundamentos e, com o decorrer dos meses, as paredes iam sendo levantadas.
Passou aquele verão,
veio o outono, o inverno, e nunca secou a água do velho poço! Chegou a
primavera e com ela as abençoadas chuvas abasteceram os reservatórios das casas
e dos campos. A construção da igreja ia de vento em popa e estava previsto seu
término para o próximo verão. Padre Maurício preparou o programa de inauguração
da nova igreja, incluindo uma grande procissão de traslado da imagem de Nossa
Senhora das Vitórias até o novo altar-mor, todo feito em mármore de cores
lindíssimas.
O verão deste ano,
todavia, castigava ainda mais que o anterior. E a água do poço secou
completamente! Não havia meio de retirar dele uma gotinha sequer... Iria Nossa
Senhora abandonar quem se havia posto sob sua proteção? O padre estava
preocupado, porque dali a dois dias seria a procissão e o povo iria chegar sedento
à igreja, depois de percorrer um logo caminho sob o Sol causticante para subir
o morro. Confiante no auxílio da Mãe de Deus, não cancelou a cerimônia e fez
tudo como se nada estivesse acontecendo.
Chegado o esperado
dia, a procissão se fez solene e animada. Um imponente andor ornado com as
flores silvestres da região transportava a imagem. Os fiéis cantavam e
caminhavam com entusiasmo. Só de avistarem a altaneira torre da nova igreja
seus corações se enchiam de alegria. Quando chegaram ao templo, cansados e
afogueados, nem se importaram com o calor que sentiam e entraram com a Virgem,
triunfalmente.
Terminada a
cerimônia, porém, a sede apertou... Paulinho, então, tomou a iniciativa de
dizer:
― Não se preocupem!
Conseguimos cumprir nossa promessa! Façamos uma fila perto do poço. Ninguém
sairá dali com sede!
Todos se
entreolharam, pois sabiam que o poço não tinha mais nem uma só gota d’água! No
entanto, o menino falara com tanta convicção que a fila se formou e... Oh,
milagre! A água abundava cada vez que desciam o balde! Verdadeiramente Nossa
Senhora lhes havia dado a vitória! E nunca mais tiveram problema com a seca.
Fernanda
Cordeiro da Fonseca -Revista Arautos do Evangelho Out. 2012
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