Nas pequenas cidades
todos se conhecem. Os laços de amizade se tornam mais estreitos e os bons
amigos tratam-se como verdadeiros irmãos. Foi o que se passou com Marcos e
Pedro. Os dois cresceram na acolhedora Lagoa Dourada: juntos fizeram a Primeira
Comunhão na Matriz do Senhor Bom Jesus, estudaram na Escola Municipal e
participaram ativamente das atividades paroquiais, sendo coroinhas em todas as
Missas solenes.
Marcos pertencia a
uma família muito católica e recebera ali uma grande devoção à Santa Missa.
Desde muito pequenino, dona Matilde, sua avó, o levava bem cedo à igreja para
participar da Sagrada Eucaristia e lhe explicava cada passo do Santo
Sacrifício, deixando-o encantado com o amor de Jesus por cada um de nós.
Pedro, entretanto,
não recebera no lar tão piedosas influências. Seus pais eram católicos, porém,
pouco devotos; preocupava-lhes apenas ter boa saúde e êxito nos negócios. Fora
dona Matilde, a avó do amigo, quem lhe dera formação religiosa. Era ela quem
ensinava às duas inseparáveis crianças o catecismo. Foi ela quem os preparou
para a Primeira Comunhão e os animou a serem coroinhas na Matriz. Passou o
tempo e os dois amigos tornaram-se homens feitos. Constituíram família e
tiveram filhos, continuando a viver na mesma Lagoa Dourada.
Marcos era um pai
dedicado e procurava transmitir aos filhos toda a boa formação recebida de dona
Matilde. Mas, sobretudo esforçava-se em dar-lhes o exemplo de um bom cristão:
rezava o Rosário em família, ensinava o catecismo aos pequenos e ia à Missa
todos os dias, pois esta sempre fora sua maior devoção.
Pedro, ao contrário,
esqueceu-se dos ensinamentos recebidos e começou a preocupar-se, como seus
progenitores, apenas com o bem-estar material da família. Em matéria de
religião seu comportamento não era dos melhores: nunca rezava com os filhos e
somente ia à Missa aos domingos... se não tivesse sido organizado para esse dia
algum passeio pelas fazendas dos amigos.
Todas as manhãs,
Marcos deixava as crianças na escola e ia à Missa. Depois do Sagrado Banquete,
dirigia-se à sua padaria para comer um pão quentinho com deliciosa manteiga
derretida, feita com o leite puro e gordo de sua fazenda. De vez em quando
Pedro ia visitá-lo, mas a amizade entre os dois foi ficando cada vez menos
firme. As conversas passaram a ser quase exclusivamente de negócios e, embora
procurasse manter as aparências, notava-se serem seus interesses cada vez mais
distantes dos de Marcos.
Do esfriamento, havia
apenas um passo para a inveja. Marcos não vivia para os negócios, como Pedro;
entretanto, a padaria dele era invejável, sua fazenda muito produtiva e a
fábrica de laticínios um modelo de usina bem levada. Qual seria a razão do
sucesso de Marcos, pensava Pedro, enquanto ele, que não poupava esforços para
tornar prósperos seus negócios, sofria com a colheita fraca, o desgaste da
terra e as doenças do gado? E isso sem falar das dívidas crescentes, a ponto de
ameaçar-lhe o patrimônio...
Um dia, os dois
amigos foram convidados para um encontro de fazendeiros, a realizar-se na
capital da região. Marcos propôs fazerem a viagem juntos e Pedro aceitou por
puro interesse, pois assim os gastos seriam menores. A saída ficou marcada para
quarta-feira, depois da Missa matutina.
Entretanto, naquele
dia, o pároco não pôde celebrar na hora habitual por ter sido chamado para
atender um enfermo em uma aldeia próxima. Mandou avisar, entretanto, que
haveria Missa ao meio-dia. Marcos decidiu retardar a viagem, mas Pedro tentou
dissuadi-lo, dizendo:
— Que bobagem! Qual é
o mal se perder a Missa apenas um dia?
— A Missa tem um
valor infinito — replicou-lhe Marcos — Prefiro esperar.
— Bem, então você vai
sozinho depois. Eu já estou partindo...
E antes de se afastar
do amigo acrescentou:
— Como é possível
você atrasar uma viagem dessas só por causa de uma Missa? Você tem a vida
inteira para assistir a muitas outras...
Na realidade, Pedro
sentia-se satisfeito com a situação criada. Pensava que, chegando à cidade
antes de Marcos, ficaria com os melhores negócios e obteria resultados
superiores. Porém, no meio da estrada cheia de curvas que unia Lagoa Dourada
com a cidade vizinha, houve um deslizamento de terra, justamente quando Pedro
passava com sua caminhonete. A avalanche o fez perder o controle do veículo,
capotando ribanceira abaixo.
Pedro foi levado para
o hospital e passou vários dias em coma. Quando recuperou a consciência e
conseguiu lembrar-se do acontecido, logo fez um balanço de sua vida: percebera
o quanto estava afastado de Deus e dos Sacramentos, e perguntou-se se aquele
desastre de automóvel não era um sinal de alerta vindo da eternidade.
Que loucura tinha
sido haver menosprezado assim uma Missa! Quão perto tinha estado de não poder
participar de mais nenhuma!
Mandou chamar seu
amigo Marcos, e quando este entrou em seu quarto de convalescente, no hospital,
disse-lhe:
— Você foi salvo por
uma Missa! Eu fui muito ganancioso, e desprezei o valor supremo e infinito de
uma única Celebração Eucarística...
Marcos logo procurou
animá-lo e Pedro contou-lhe como estava arrependido pela vida que levava.
Confidenciou-lhe haver o acidente feito recordar-se de tudo o que havia
aprendido com dona Matilde e, sobretudo, dessa frase repetida por ela com tanta
seriedade: “Se soubesse haver uma Missa no rincão mais afastado da Terra, e não
tivesse oportunidade de participar em outra, faria qualquer coisa para ir até
lá!”.
Quando Pedro se
recuperou e voltou para casa, mudou radicalmente de vida. Voltou a ser um amigo
leal e passou a frequentar outra vez os Sacramentos, com toda a família. Seus
negócios também melhoraram e sua alma, livre de invejas e egoísmos, encontrou
novamente a paz.
Aquela única Missa
salvou Marcos de um acidente, mas também deu nova vida para a alma de Pedro!
Ir.Fernanda Cordeiro
da Fonseca, EP Revista Arautos n.110 fev 2011
Bendito é o Senhor de todo o tempo e espaço; de toda hora e clamor santo!
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