quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Salvo por uma Missa

Nas pequenas cidades todos se conhecem. Os laços de amizade se tornam mais estreitos e os bons amigos tratam-se como verdadeiros irmãos. Foi o que se passou com Marcos e Pedro. Os dois cresceram na acolhedora Lagoa Dourada: juntos fizeram a Primeira Comunhão na Matriz do Senhor Bom Jesus, estudaram na Escola Municipal e participaram ativamente das atividades paroquiais, sendo coroinhas em todas as Missas solenes.
Marcos pertencia a uma família muito católica e recebera ali uma grande devoção à Santa Missa. Desde muito pequenino, dona Matilde, sua avó, o levava bem cedo à igreja para participar da Sagrada Eucaristia e lhe explicava cada passo do Santo Sacrifício, deixando-o encantado com o amor de Jesus por cada um de nós.
Pedro, entretanto, não recebera no lar tão piedosas influências. Seus pais eram católicos, porém, pouco devotos; preocupava-lhes apenas ter boa saúde e êxito nos negócios. Fora dona Matilde, a avó do amigo, quem lhe dera formação religiosa. Era ela quem ensinava às duas inseparáveis crianças o catecismo. Foi ela quem os preparou para a Primeira Comunhão e os animou a serem coroinhas na Matriz. Passou o tempo e os dois amigos tornaram-se homens feitos. Constituíram família e tiveram filhos, continuando a viver na mesma Lagoa Dourada.
Marcos era um pai dedicado e procurava transmitir aos filhos toda a boa formação recebida de dona Matilde. Mas, sobretudo esforçava-se em dar-lhes o exemplo de um bom cristão: rezava o Rosário em família, ensinava o catecismo aos pequenos e ia à Missa todos os dias, pois esta sempre fora sua maior devoção.
Pedro, ao contrário, esqueceu-se dos ensinamentos recebidos e começou a preocupar-se, como seus progenitores, apenas com o bem-estar material da família. Em matéria de religião seu comportamento não era dos melhores: nunca rezava com os filhos e somente ia à Missa aos domingos... se não tivesse sido organizado para esse dia algum passeio pelas fazendas dos amigos.
Todas as manhãs, Marcos deixava as crianças na escola e ia à Missa. Depois do Sagrado Banquete, dirigia-se à sua padaria para comer um pão quentinho com deliciosa manteiga derretida, feita com o leite puro e gordo de sua fazenda. De vez em quando Pedro ia visitá-lo, mas a amizade entre os dois foi ficando cada vez menos firme. As conversas passaram a ser quase exclusivamente de negócios e, embora procurasse manter as aparências, notava-se serem seus interesses cada vez mais distantes dos de Marcos.
Do esfriamento, havia apenas um passo para a inveja. Marcos não vivia para os negócios, como Pedro; entretanto, a padaria dele era invejável, sua fazenda muito produtiva e a fábrica de laticínios um modelo de usina bem levada. Qual seria a razão do sucesso de Marcos, pensava Pedro, enquanto ele, que não poupava esforços para tornar prósperos seus negócios, sofria com a colheita fraca, o desgaste da terra e as doenças do gado? E isso sem falar das dívidas crescentes, a ponto de ameaçar-lhe o patrimônio...
Um dia, os dois amigos foram convidados para um encontro de fazendeiros, a realizar-se na capital da região. Marcos propôs fazerem a viagem juntos e Pedro aceitou por puro interesse, pois assim os gastos seriam menores. A saída ficou marcada para quarta-feira, depois da Missa matutina.
Entretanto, naquele dia, o pároco não pôde celebrar na hora habitual por ter sido chamado para atender um enfermo em uma aldeia próxima. Mandou avisar, entretanto, que haveria Missa ao meio-dia. Marcos decidiu retardar a viagem, mas Pedro tentou dissuadi-lo, dizendo:
— Que bobagem! Qual é o mal se perder a Missa apenas um dia?
— A Missa tem um valor infinito — replicou-lhe Marcos — Prefiro esperar.
— Bem, então você vai sozinho depois. Eu já estou partindo...
E antes de se afastar do amigo acrescentou:
— Como é possível você atrasar uma viagem dessas só por causa de uma Missa? Você tem a vida inteira para assistir a muitas outras...
Na realidade, Pedro sentia-se satisfeito com a situação criada. Pensava que, chegando à cidade antes de Marcos, ficaria com os melhores negócios e obteria resultados superiores. Porém, no meio da estrada cheia de curvas que unia Lagoa Dourada com a cidade vizinha, houve um deslizamento de terra, justamente quando Pedro passava com sua caminhonete. A avalanche o fez perder o controle do veículo, capotando ribanceira abaixo.
Pedro foi levado para o hospital e passou vários dias em coma. Quando recuperou a consciência e conseguiu lembrar-se do acontecido, logo fez um balanço de sua vida: percebera o quanto estava afastado de Deus e dos Sacramentos, e perguntou-se se aquele desastre de automóvel não era um sinal de alerta vindo da eternidade.
Que loucura tinha sido haver menosprezado assim uma Missa! Quão perto tinha estado de não poder participar de mais nenhuma!
Mandou chamar seu amigo Marcos, e quando este entrou em seu quarto de convalescente, no hospital, disse-lhe:
— Você foi salvo por uma Missa! Eu fui muito ganancioso, e desprezei o valor supremo e infinito de uma única Celebração Eucarística...
Marcos logo procurou animá-lo e Pedro contou-lhe como estava arrependido pela vida que levava. Confidenciou-lhe haver o acidente feito recordar-se de tudo o que havia aprendido com dona Matilde e, sobretudo, dessa frase repetida por ela com tanta seriedade: “Se soubesse haver uma Missa no rincão mais afastado da Terra, e não tivesse oportunidade de participar em outra, faria qualquer coisa para ir até lá!”.
Quando Pedro se recuperou e voltou para casa, mudou radicalmente de vida. Voltou a ser um amigo leal e passou a frequentar outra vez os Sacramentos, com toda a família. Seus negócios também melhoraram e sua alma, livre de invejas e egoísmos, encontrou novamente a paz.
Aquela única Missa salvou Marcos de um acidente, mas também deu nova vida para a alma de Pedro!
Ir.Fernanda Cordeiro da Fonseca, EP Revista Arautos n.110 fev 2011


Um comentário:

  1. Bendito é o Senhor de todo o tempo e espaço; de toda hora e clamor santo!

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