sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

“Não tens vergonha de pecar na minha presença?”

Santa Gemma Galgani (1878-1903) teve a constante companhia de seu Anjo protetor, com quem mantinha um trato familiar. Ela o via, rezavam juntos, e ele até mesmo deixava que ela o tocasse. Enfim, Santa Gemma tinha seu Anjo da Guarda na condição de um amigo sempre presente. Ele lhe prestava todo tipo de ajuda, até mesmo levando mensagens para seu confessor, em Roma.
Este sacerdote, o padre Germano de Santo Estanislau, da Ordem dos Passionistas, fundada por São Paulo da Cruz, deixou narrado o convívio de Santa Gemma com seu celeste protetor: "Frequentes vezes ao perguntar-lhe eu se o Anjo da Guarda permanecia sempre no seu posto, ao lado dela, Gemma voltava-se para ele com um à vontade encantador e logo ficava num êxtase de admiração todo o tempo que o fixava".1 Ela o via durante todo o dia. Ao dormir pedia-lhe que velasse à cabeceira da cama e que lhe fizesse um sinal da Cruz na fronte. Quando despertava, pela manhã, tinha a imensa alegria de vê-lo a seu lado, como ela mesma contou a seu confessor: "Esta manhã, quando acordei, lá o tinha junto de mim".2
Quando ia se confessar e precisava de auxílio, sem demora seu Anjo a ajudava, segundo conta: "[Ele] me traz ao espírito as ideias, dita-me até algumas palavras, de forma que não sinto dificuldade em escrever".3 Além disso, seu Anjo da Guarda era um sublime mestre de vida espiritual, ensinando-a como proceder retamente: "Lembra-te, minha filha, que a alma que ama a Jesus fala pouco e abnega-se muito. Ordeno-te, da parte de Jesus, que nunca dês o teu parecer se não te for pedido, e que não defendas a tua opinião, mas que cedas logo". E ainda acrescentava: "Quando cometeres qualquer falta, acusa-te logo dela sem esperares que te interroguem. Enfim, não te esqueças de resguardar os olhos, porque os olhos mortificados verão as belezas do Céu".4
Apesar de não ser religiosa, levando uma vida comum, Santa Gemma Galgani desejava, entretanto, consagrar-se de maneira mais perfeita ao serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porém, como às vezes pode acontecer, o simples anseio de santidade não basta; é preciso a sábia instrução de quem nos guia, aplicada com firmeza. E assim acontecia a Santa Gemma. Seu suavíssimo e celeste companheiro, que a todo tempo estava sob seu olhar, não colocava de lado a severidade quando, por algum deslize, sua protegida deixava de seguir as vias da perfeição. Quando, por exemplo, resolveu usar algumas joias de ouro, com certo comprazimento, para visitar um parente de quem as havia recebido de presente, ouviu uma salutar admoestação de seu Anjo, ao regressar a casa, que a olhava com severidade: "Lembra-te que os colares preciosos, para enfeite da esposa de um Rei crucificado, só podem ser seus espinhos e sua Cruz".5 Fosse qual fosse a ocasião em que Santa Gemma se desviasse da santidade, logo uma angélica censura se fazia ouvir: "Não tens vergonha de pecar na minha presença?".6 Além de custódio, bem se vê que o Anjo da Guarda desempenha o excelente ofício de mestre de perfeição e modelo de santidade.

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