Buuummm!!! Pam!!! Pam!!! Pam!!!
Buuummm!!!...
- Meu Deus! Será o fim do
mundo?!
Martim levantou-se assustado e
correu para a sacada de seu quarto, a fim de verificar de onde vinha tal
estrondo, ainda tão cedo. Lá chegando, percebeu que não fora o único a ouvi-lo,
pois a vizinhança inteira fizera o mesmo... Que acontecera?! Haviam sido
despertados por uma forte descarga de artilharia que, ao alvorecer, anunciava
uma terrível batalha. A guerra se aproximava do povoado!
Nas regiões vizinhas a aflição
era geral. Por todos os cantos havia destruições, mortes e calamidades. Não
poucos se desesperavam diante de tão grandes catástrofes; outros, porém, se
afervoravam e imploravam o auxílio de Deus.
Entre estes estão Martim e
muitos habitantes daquela cidadezinha, no centro da Europa: assim que sentiram
a guerra se aproximar, foram suplicar graças especiais de proteção e amparo na
matriz dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. A cada dia acorria mais gente à
Santa Missa, para adorar a Jesus Eucarístico. O pároco, padre Luís, aproveitava
para estimular os fiéis a não desanimarem em face das dificuldades e a não se
afastarem da Igreja e dos Sacramentos, por piores que fossem as circunstâncias
que lhes adviessem. Suas palavras tinham tanta unção, que muitos eram os que,
desejando estar em paz com Deus, pediam a Confissão.
A guerra foi se agravando. As
notícias não eram nada favoráveis. O povo soube que a cidade havia sido
designada como rota das mobilizações militares e via que, sem uma intervenção
do Céu, muitos desastres poderiam acontecer com a passagem da infantaria
inimiga... Ante tão preocupante perspectiva, a piedade de todos não esmorecia,
mas, ao contrário, crescia mais! E, apesar do forte frio, os paroquianos não
deixavam de frequentar a matriz.
Como agir para evitar a
catástrofe iminente? Sobretudo, como zelar para que, no afã da guerra, o
edifício sagrado não fosse destruído por alguma bomba ou fossem profanados o
Santíssimo ou a majestosa imagem do Sagrado Coração de Jesus?
No domingo, o padre Luís pediu
um sinal a Deus para saber como agir. Qual não foi sua surpresa ao abrir o
Breviário, a esmo, e ler: "Se os inimigos se acamparem contra mim, não
temerá meu coração; se contra mim uma batalha estourar, mesmo assim confiarei.
[...] Pois um abrigo me dará sob seu teto nos dias da desgraça; no interior de
sua tenda há de esconder-me e proteger-me sobre a rocha" (Sl 26, 3.5).
Tomado de consolação, discerniu a vontade divina e, no fim do sermão da Missa
matutina, comunicou à assembleia a inspiração que tivera: que todos se
refugiassem na matriz.
Embora a chegada do exército
invasor fosse esperada para o dia seguinte, as palavras do pároco trouxeram
muita confiança e alegria. Martim e alguns dos fiéis mais fervorosos decidiram
passar a noite no templo, em vigília. Os demais para lá se dirigiram ao raiar
da aurora. A igreja estava tão repleta que as portas foram fechadas com muita
dificuldade... O que lhes aguardava? Ninguém o sabia!
As horas iam passando e o
silêncio inundava o ambiente. E só foi interrompido pelo pequeno João, o mais
novo dos coroinhas, filho de Martim:
- Padre Luís, por que não
fazermos as Quarenta Horas de Adoração a Jesus Eucarístico? Aprendemos na
catequese que todas as intenções postas nesta devoção, por mais impossíveis que
pareçam, são obtidas!
Ninguém duvidou que o menino
era mais um instrumento da inspiração celeste. Sem titubear, o sacerdote
iniciou, com toda a solenidade, a vigília das Quarenta Horas, segundo o
cerimonial prescrito para a ocasião. O entusiasmo era geral. Unidos em oração,
aos pés do Coração Eucarístico de Jesus, pediam um milagre: a preservação da
matriz e da cidade.
Após algumas horas, ouviu-se ao
longe o tropel dos soldados que avançavam. Imediatamente o padre Luís montou um
plano de ação, para que nada os colhesse desprevenidos. Dividiu as pessoas em
grupos: os homens deveriam guarnecer as portas; as senhoras zelariam pela
imagem do Coração de Jesus; os mais velhos permaneceriam nos seus lugares
rezando; enquanto ele mesmo ficaria perto do Santíssimo, para protegê-Lo. Todas
as crianças resolveram se reunir detrás do sacerdote, a fim de darem suas vidas
para defender Jesus-Hóstia, caso fosse necessário.
O barulho das tropas se
aproximava e já se ouvia o alarido dos homens de guerra. Todos rezavam o
Rosário com maior fervor e alguns se preparavam para a morte... De repente,
começou uma forte ventania e ouviu-se uma gritaria geral entre os soldados, que
se debandaram espavoridos. O vento soprou com violência por um bom tempo, até
que reinou o silêncio em torno da igreja e a cidade parecia deserta...
Os mais corajosos foram até a
porta principal do templo e a abriram. Oh, maravilha! Uma imensa muralha de
neve protegia a matriz e obstruía o acesso à cidade. Os mais jovens subiram ao
campanário e viram a sua extensão: era enorme! Compreenderam, então, que Deus
enviara uma tempestade de neve tão forte que havia levantado aquela inusitada
barreira, impedindo o avanço dos inimigos! Entre cânticos de louvor ao
Santíssimo Sacramento, agradeciam a Deus seu auxílio. O padre Luís tomou a palavra
e exortou-os a nunca duvidarem do socorro divino, e a crescerem na devoção a
Jesus Sacramentado e ao Santo Rosário!
Assim, completaram as Quarenta
Horas de Adoração e, para encerrá-las, foi celebrada uma solene Missa, em ação
de graças.
Revista Arautos do Evangelho,
Julho - 2014
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