Carlota Crippa
Das pequenas histórias que
Dom Bosco contava para educar seus jovens, tiramos este breve conto.
Numa cabana em meio a
um agradável bosque morava, com sua família, um velho camponês, alquebrado
pelos anos. Quem sabe ele próprio a edificara, ou ao menos ajudara na sua
construção. Mas depois ficara tão, tão velhinho, quase surdo, com pouquíssima
visão, de joelhos trêmulos, que quase não servia mais para nada. Vivia ele,
assim, vagando de um canto a outro da casa, solitário com suas recordações, sem
ter com quem conversar nem com que se distrair.
Quando, à noite, todos
sentavam-se à mesa para tomar um bom prato de sopa reforçada com uma farta
fatia de pão, o pobre velhinho tremia tanto, tanto, que derramava mais sopa do
que conseguia tomar. Sujava a camisa e a toalha. E logo a nora, impaciente e
mal-humorada, zangava-se e lhe dizia palavras ásperas.
Um dia, o filho,
irritado ele também, com as debilidades senis do pai, cedeu às insistências da
esposa. Obrigaram o velho a, daí em diante, fazer as refeições sentado num
canto atrás do fogão, comendo numa tigela de barro. E davam-lhe tão pouca coisa
que o coitado estava sempre com fome...
De seu canto, com sua
pouca visão, ele levantava os olhos para espiar a família reunida à mesa. Com a
mão trêmula, levava a colher à boca e engolia a sopa misturada com suas
lágrimas.
Certa vez, a mão
tremeu-lhe tanto que a tigela caiu e se quebrou. A nora repreendeu-o com
brutalidade. Ele, na sua triste situação, nada pôde responder. No dia seguinte,
ela comprou-lhe uma gamela de madeira, das mais ordinárias que havia na
vendinha do carpinteiro, para substituir a tigela de barro.
O neto do velho, um
menino vivo, de seus oito anos, costumava brincar próximo ao fogão. Gostava de
correr pelo bosque e construía seus próprios brinquedos com os galhos de árvore
e pedras que recolhia pelo caminho. Certo dia, ele parecia estar brincando com
uns paus, mas fazia algo que não era um brinquedo. Intrigado e curioso, seu pai
perguntou-lhe:
— O que você está
fazendo, meu filho?
— Estou fazendo um
cocho, papai, para o senhor e a mamãe comerem quando ficarem velhinhos —
respondeu o rapaz.
Marido e mulher se
olharam por algum tempo e desataram a chorar. Lembraram-se, então, da frase do
Eclesiastes, que reflete o 4º mandamento: “O que honra seu pai encontrará
alegria nos seus filhos” (Ecli 3, 6). Deram-se conta de que as crianças prestam
muita atenção no que vêem, analisam e tiram conclusões... E de que o exemplo —
bom ou mau — é o mais poderoso dos mestres.
Resultado, atiraram ao
fogo a gamela de madeira e trouxeram o velhinho de volta para seu lugar de honra
à mesa, dando-lhe uma bela tigela nova e sempre cheia de sopa.
A nora fez uns grandes
guardanapos para ele e, daí por diante, quando a trêmula mão derramava a sopa,
fingiam não ver e nada diziam.
A boa ordem familiar
voltou àquela cabana. E o coração do velho encheu-se da alegria de sentir-se
novamente estimado e respeitado por aqueles a quem amava e por quem havia
trabalhado e sofrido ao longo de sua vida. O exemplo dado nas boas ações tem
muito mais força do que qualquer discurso, por mais erudito que seja...
Revista Arautos do Evangelho n.15. março 2013
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