Irmã Daniela Ayau Valladares, EP
Havia
muitos anos que as Irmãs Marcelinas estavam estabelecidas na pitoresca Chambéry,
bela cidade próxima aos Alpes franceses. Devotadas à educação cristã da
juventude, davam formação às alunas externas, mas também tinham internato, para
aquelas que viviam em lugares mais distantes ou queriam levar uma vida mais
regrada.
Seu educandário
era famoso em toda a Saboia pela qualidade do ensino, mas, sobretudo, pelo
esmero com que as freiras procuravam conduzir as alunas pelas vias da virtude e
a afetuosa disciplina com que lhes formavam o caráter.
Sebastião
e Clara, distintos e honestos proprietários rurais vinícolas da região, tinham
uma única filha, Judith, que era a alegria da casa. Piedosa e inteligente, a
menina era também bastante precoce. Aprendera a ler com apenas cinco anos e
tinha um pendor único para o estudo. Sabia todo o Catecismo de memória e, assim,
já enfrentava pequenas discussões com outras crianças, sobre temas religiosos.
Os
pais, percebendo os dons da filha, desejavam que tivesse a melhor formação
possível. Por isso, logo depois da Primeira Comunhão, a matricularam nas Marcelinas
de Chambéry, em regime de internato, uma vez que sua propriedade era afastada
da cidade.
Nesta conceituada
instituição, a menina não só brilhava nas aulas, como se encantava ao
contemplar os atos de piedade das religiosas. Furtivamente as acompanhava durante
o cântico do Ofício Divino, rezava o Rosário com elas, e jamais faltou à Missa
da comunidade.
Certa
vez, ficou sabendo que São Tomás de Aquino declarara haver aprendido muito mais
em suas visitas ao Santíssimo Sacramento que estudando nos livros e, desde
aquele momento, fez propósito de frequentar a capela sempre que fosse possível.
Não era raro encontrá-la junto a Jesus Eucarístico, com seus cadernos e livros,
ou fazendo as lições. Judith era uma criança realmente piedosa.
Nas
férias, regressou ao lar. Seus pais ficaram muito satisfeitos com a cultura, a
boa disposição e o trato afetuoso que a menina manifestava. Havia progredido a passos
largos desde a última vez que a viram. Conversava alegremente com todos, ajudava
à mãe nas lides domésticas, cuidava dos animaizinhos e da horta, mas do que
realmente gostava era de passear pelas vinhas ou pelo bosque, ou de refugiar-se
em um recanto tranquilo para ler um livro interessante.
Quando retornou
ao Colégio, ali lhe esperava uma surpresa: todas falavam de uma santa com a
qual logo se identificaria. Era Santa Teresinha do Menino Jesus, a carmelita de
Lisieux que havia sido canonizada não fazia muito tempo. Com ela, aprendera a
oferecer pequenos sacrifícios, na certeza de que Jesus os aceitaria com todo amor.
Assim, sempre que tinha algum aborrecimento com as companheiras, punha-o nas
mãos de Nosso Senhor e logo sentia grande paz de alma.
Algumas
semanas depois de ter começado o novo curso, em uma cinzenta tarde de outono, a
superiora do Colégio, irmã Joana, chamou Judith na sala da diretoria. A menina
se assustou pelo inesperado do fato. Caminhava pelos corredores fazendo um
exame de consciência para saber que poderia haver feito de errado... Apesar de não ter encontrado nada que a
acusasse, entrou na sala com apreensão.
A
Madre, então, lhe disse:
― Minha
pequena Judith, chamei-a aqui para dar-lhe uma notícia não muito boa. Mas tenha
confiança! Tudo tem solução, desde que nos ponhamos nas mãos de Deus.
― Que
notícia seria esta, Madre, que tanta preocupação lhe traz?
―
Filha, recebi uma carta de seu pai, dizendo que tiveram um desastre financeiro
e não mais poderão enviar a mensalidade para mantê-la estudando aqui no Colégio.
― Não
pode ser! ― exclamou a menina ― Ajude-me, Madre! Aqui sou tão feliz...
― Escute
― disse a superiora comovida. Está chegando a festa de Santa Teresinha. Ela
sempre oferecia pequenos sacrifícios a Jesus e Ele os recebia com todo afeto.
Faça o mesmo que ela!
A
resposta deixou a menina admirada. Parecia que a madre tivesse lido em seu interior
a grande devoção que já sentia por aquela humilde freira carmelita. Imediatamente
depois de sair da sala, Judith dirigiu-se à capela. Ajoelhada aos pés do
tabernáculo, pediu a Jesus que revertesse aquela situação. Deixar o Colégio significaria
parar de estudar, ficar longe das religiosas, mas também afastar-se daquele
sacrário, diante do qual tantas e tantas graças recebera.
Cheia
de confiança na intercessão de Santa Teresinha e animada pelas palavras da
superiora, decidiu oferecer-lhe um pequeno sacrifício: até o dia da festa da
santa não comeria como sobremesa nem queijo, nem doce, que ela tanto gostava, a
fim de que seu amado pai fosse socorrido em suas dificuldades e ela pudesse continuar
no colégio.
Chegou
o dia da festa, durante o qual Judith sentiu-se inundada por uma suave alegria.
Uma semana depois, a superiora mandou-a chamar novamente. Tinha chegado uma
carta de seu pai, que dizia:
“Madre,
tenho que dar muitas graças a Deus, porque um auxílio prodigioso e inesperado
permitiu nossa família sair do apuro em que se encontrava. Para não preocupar
minha filha Judith, ocultei na carta anterior a gravidade do momento pelo qual
passávamos. Mas agora posso confidenciar que estávamos em vias de vender a
propriedade onde nossa família habita, há mais de quatro séculos.
“Resolvida
a situação, apresso-me em comunicar-lhe que estou novamente em condições de
honrar meus compromissos. Bem sei que a caridade das irmãs jamais teria deixado
minha filha desamparada, mas considero um dever de justiça e gratidão
contribuir, na medida das minhas possibilidades, com essa benemérita
instituição. Por isso, o valor enviado desta vez é bem maior do que o
acostumado”.
Madre
Joana e Judith se olharam emocionadas e foram agradecer, diante do sacrário, a
graça que, por intercessão de Santa Teresinha, o Menino Jesus havia-lhes
concedido. E ali, falando muito baixinho, para não quebrar o recolhimento da
igreja, a superiora disse à sua discípula:
― É
preciso tirar desse episódio uma lição para toda a vida: os pequenos
sacrifícios, quando oferecidos com amor, tocam a fundo o Coração de Jesus. E
Ele, que nunca Se deixa vencer em generosidade, cumula de graças e bênçãos
aqueles que os põem em Suas divinas mãos.
Deus
jamais defrauda aos que n’Ele depositam sua confiança!
Revista Arautos do Evangelho Jul 2010
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