É sabido que no Céu,
em corpo e alma, encontram-se Jesus, “primogênito dentre os mortos” (Ap 1, 5),
Maria, que como criatura puramente humana está muito mais próxima de nós, e, segundo
uma sólida linha teológica, também José.1 Ignoramos se Maria morreu ou não,
pois a Santa Igreja até hoje se absteve de defini-lo. Quando Pio XII definiu o
dogma da Assunção de Nossa Senhora, eludiu essa questão ao incluir a seguinte
fórmula na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus: “A Imaculada Mãe de
Deus, a sempre Virgem Maria, terminando o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à
glória celestial”.2 Não determina, portanto, se Ela passou pelo transe da
morte, para ressuscitar em seguida ou se, livre desta, subiu ao Céu em corpo e
alma, como sucederia com a humanidade no Paraíso Terrestre, caso nossos primeiros
pais não tivessem desobedecido. Essa transição devia-se a um privilégio pelo
qual, segundo São Tomás, a alma “possuía uma força dada sobrenaturalmente por
Deus, graças à qual podia preservar o corpo de toda a corrupção, enquanto
permanecesse ela mesma submetida a Deus”.3 No entanto, em decorrência da queda
de Adão e Eva todos estamos sujeitos à morte e até o próprio Cristo quis
padecê-la.
Em face disso, surgem
duas correntes na mariologia: uma sustenta que Nossa Senhora não podia deixar
de experimentar as dores da morte, uma vez que era chamada a seguir seu Divino
Filho em tudo. Outros afirmam que Nosso Senhor A teria livrado da morte, como A
livrou também da mancha do pecado. Dado que a Igreja não se pronunciou a
respeito disso, pode-se optar por uma ou outra tendência. Particularmente, o
Autor é favorável à tese de que deveria existir ao menos uma criatura que
realizasse o plano original do Paraíso. Caberia impor a separação da alma e do
corpo Aquela que, ao acompanhar Nosso Senhor no Calvário, já havia sofrido
muito mais do que os tormentos da própria morte? De qualquer forma, Cristo
levou consigo ao Céu a Arca que deu origem à sua humanidade santíssima, como
reza o Salmo: “Subi, Senhor, para o lugar de vosso pouso, subi com vossa Arca
poderosa!” (Sl 131, 8).
Este dia que a Igreja
nos convida a ter presente a figura de Maria assunta ao céu, nos enche de
esperança,
pois também nós, embora concebidos no pecado, fomos criados com vistas à ressurreição
e chamados a gozar um dia da glória do Céu, dessa sublime realidade que hoje
contemplamos com os olhos da fé.
1) Cf. SAO FRANCISCO
DE SALES. Entretien
XIX. Sur les vertus de Saint Joseph. In: OEuvres Complètes. Opuscules de
spiritualité. Entretiens spirituels. 2.ed. Paris: Louis Vivès, 1862, t.III,
p546; LLAMERA, OP, Bonifacio. Teología de San José. Madrid: BAC, 1953,
p.629-630
2) PIO XII.
Munificentissimus Deus, n.44.
3) SAO TOMAS DE
AQUINO. Suma Teológica. I, q.97, a.1.
Texto
extraído do livro O inédito sobre os Evangelhos V.7 de Mons João Clá Dias.
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