Aproveitemos
esta Semana Santa para meditarmos no amor demonstrado por Nosso Senhor Jesus
Cristo naquela Ceia suprema, precedida pela generosidade do lava-pés e coroada
pela instituição da Eucaristia!
Como é bom o Senhor
Jesus! Como é amoroso! - Não satisfeito de fazer-se nosso irmão pela
Encarnação, nosso Salvador pela Paixão, - não contente de entregar-Se por nós,
quer levar o amor ao ponto de tornar-Se nosso Sacramento de vida!
Com que alegria
preparou Ele esse grande e supremo dom de sua dileção!
Com que felicidade
instituiu a Eucaristia e no-la deixou em testamento!
Acompanhemos a divina
Sabedoria na preparação da Eucaristia. - Adoremos seu poder, exaurindo-se ela
própria nesse ato de amor.
Jesus revela a Eucaristia com grande antecedência
Nasce em Belém, a casa do pão, domus panis. - Ali,
acha-Se deitado sobre a palavra, que parece então suportar as espigas do
verdadeiro trigo.
Em Caná e no deserto,
ao multiplicar os pães, é a
Eucaristia que Ele revela; ali também, Jesus promete a Eucaristia. É uma
promessa pública, formal.
Ele afirma, com
juramento, que dará a sua carne por comida e o seu sangue por bebida.
É a preparação
remota. - Chega depois o momento de preparar mais imediatamente a Eucaristia.
Neste caso, Jesus
mesmo quer preparar tudo. - O amor não transfere; o amor tudo faz por si mesmo.
É a sua glória.
Ora, Jesus designa a
cidade: Jerusalém, a cidade do
sacrifício da antiga Lei.
Designa a casa: o Cenáculo.
Escolhe os ministros dessa obra: Pedro e João. - Pedro: o discípulo da fé, - João: o discípulo do amor.
Indica a hora: a
última de sua vida, da qual poderá dispor livremente.
Enfim, dirige-se de
Betânia ao Cenáculo: está alegre; ativa o passo; tarda-lhe chegar. O amor voa
ao encontro do sacrifício.
Mas eis a instituição
do augusto Sacramento. Que momento! Soou a hora do amor; vai consumar-se a
Páscoa mosaica; o Cordeiro verdadeiro vai substituir a figura; - o Pão de vida,
o Pão vivo, o Pão do céu, substitui o maná do deserto... Tudo está pronto; os
Apóstolos estão puros: Jesus acaba de lavar-lhes os pés. - Jesus senta-Se
modestamente à mesa: é necessário comer a nova Páscoa assentado, no repouso de
Deus.
Faz-se grande
silêncio: os Apóstolos acham-se atentos e olham.
Jesus recolhe-Se em
Si mesmo; toma o pão em suas santas e veneráveis mãos, ergue os olhos ao Céu,
rende graças a seu Pai por esta hora tão desejada, estende a mão, abençoa o
pão...
E enquanto os
Apóstolos, penetrados de respeito, não ousam perguntar a significação desses
símbolos tão misteriosos Jesus pronuncia as arrebatadoras palavras, tão
poderosas quanto a palavra criadora: Tomai e comei, isto é o meu Corpo. Tomai e
bebei, isto é o meu Sangue.
Está consumado o
mistério do amor. Jesus cumpriu a sua promessa. Nada mais tem a dar, senão a
sua vida mortal na cruz; Ele a dará e ressuscitará para tornar-Se nossa Hóstia
perpétua de propiciação, Hóstia de comunhão, Hóstia de adoração.
O Céu acha-se
arrebatado à vista desse mistério. A Santíssima Trindade o contempla com amor.
Os Anjos o adoram, tomados de admiração.
E de que
estremecimentos de raiva não são tomados os demônios nos infernos!...
Sim, senhor Jesus,
tudo está consumado! Nada mais tendes para dar ao homem, para provar-lhe o
vosso amor. - Agora podeis morrer; não nos deixareis, nem pela morte. - Vosso
amor acha-se eternizado sobre a terra; voltai ao Céu de vossa glória, a
Eucaristia será o Céu do vosso amor.
Ai de nós! Se o amor
de Jesus no Santíssimo Sacramento não nos conquistar o coração, Jesus estará
vencido - Nosso ingratidão será maior que sua bondade; nossa malícia mais
poderosa que sua caridade!
São
Pedro Julião Eymard
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