O frio
ainda estava penetrante e a neve não cessava de cair naquele fim de inverno
europeu, mais rigoroso que de costume. No entanto, a severidade do clima não
impedia a pequena Inês de sair de sua casa, situada na encosta de uma íngreme
montanha, para ir assistir à Missa na aldeia vizinha. Era o dia 3 de fevereiro,
quando todas as crianças da região recebiam lindos papéis dourados, onde
anotavam os pequenos sacrifícios que ofereciam a Nossa Senhora de Lourdes, durante
sua novena.
Nesses
dias, todos se empenhavam em participar da Santa Eucaristia, e quanto mais se aproximava
o dia da festa, a alegria da meninada tornava-se mais intensa. Ao mesmo tempo,
suas listas iam engrossando com as mortificações que faziam, e que para elas
constituíam verdadeiros holocaustos, como privar-se de chocolate ou de doce,
fazer os deveres da escola sem resmungar ou levantar-se cedinho de um salto só,
apesar de tiritarem de frio e os cobertores quentinhos convidarem a um pouquinho
mais de sono...
Para
Inês, o percurso até a igreja era um sacrifício a mais, pois, enquanto as outras
crianças viviam a pouca distância do templo, para descer a montanha e chegar à
aldeia ela se via obrigada a percorrer um caminho escarpado e pedregoso,
coberto de neve, sob o vento inclemente. Cheia de fervor, porém, a menina nem sequer
se dava conta do esforço que aquilo significava, e nem o considerava como algo
de valor, próprio a ser oferecido a Jesus e a Maria, e digno de constar em seu
papel dourado. Ao contrário, ficava desolada porque seus pais não lhe permitiam
fazer todos os sacrifícios que desejava, e achava que sua lista não estava
suficientemente cheia.
Chegada
a vigília da festa, Inês saiu da igreja um pouco preocupada, pois já estava bem
escuro. Os últimos raios do Sol se haviam ocultado atrás das montanhas,
enquanto ela conversava animadamente com as companheiras sobre a cartinha que
seria posta junto à imagem de Nossa Senhora de Lourdes, no dia seguinte,
acompanhando suas listinhas de sacrifícios e penitências.
À luz
do pequeno lampadário que levava suspenso a uma vara, empreendeu com decisão o
trajeto de volta, e a certa altura do caminho notou, com estupefação, que este
se achava salpicado de belas rosas frescas e perfumadas.
— Como
podem ter aparecido estas flores, em pleno inverno? — disse consigo mesma —
Quem as terá deixado aqui? Bom... Não importa! Vou recolhê-las e oferecê-las
amanhã, quando for à Missa, a Jesus e à sua Mãe Santíssima!
Ao
amanhecer, ela saiu de casa com seu ramalhete de rosas. Tinha já percorrido um
bom trecho da estrada, quando ouviu passos atrás de si. Voltou-se para ver quem
a seguia e viu, então, um jovem de aparência celestial, de luzidio e magnífico
semblante, vestindo uma túnica lilás bordada de prata e com asas de diversas
tonalidades. Era seu Anjo da Guarda.
Em sua
mão esquerda portava uma cesta de rosas, as quais ia espalhando ao longo do
caminho, justamente nas pegadas que a menina deixava sobre a neve. Na mão
direita segurava outra cesta, com flores de uma beleza incomparável e de
variadíssimas cores. Cheia de maravilhamento, ela não se atreveu a balbuciar
uma palavra sequer. Contudo, o Anjo lhe disse:
— Inês,
minha protegida, eu recolhi nesta cesta todos os passos que destes enfrentando
os rigores da neve e do frio, vencendo o cansaço para chegar à igreja e
participar da Santa Missa! Cada um deles está representado por uma destas
rosas. Eu as entrego a ti, a fim de que as ofertes a Nossa Senhora neste dia de
sua festa!
— Ó meu
Santo Anjo, eu não sabia que algo tão pequeno poderia agradar a Jesus e a
Maria! Mas... e esta outra cesta tão linda, cujas flores são superiores a todas
as que cobrem os campos na primavera?!
— Elas
simbolizam os méritos que Deus te concedeu por teres comparecido à Santa Missa
e comungado todos os dias. Inês, por mais que tenhas oferecido mortificações
durante a novena que ontem terminou, nada pode se comparar à assistência devota
e fervorosa ao Santo Sacrifício do Altar!
E
depois de entregar-lhe as duas cestas, o Anjo desapareceu num raio de luz.
A
pequena correu, então, para a igreja levando aquele precioso presente e
participou da Missa com uma devoção como nunca tivera na vida. E com as
amiguinhas depositou aos pés da Virgem de Lourdes suas listas douradas e a
carta que escreveram, repleta de manifestações de carinho por Ela e por seu
Divino Filho, adornadas pelas esplendorosas flores celestiais que o Anjo lhe
dera.
Revista Arautos do Evangelho - fev 2014
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