segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Abelhas adoradoras de Jesus

Um crime terrível abalara aquela simples e devota aldeia. Toda a população estava indignada com o roubo sacrílego. Dois homens encapuzados, de fala grotesca e modos selvagens, invadiram a igreja matriz, depois da última Missa do dia, e roubaram a Hóstia grande, reservada para as Adorações solenes que se realizavam todas as manhãs.
E o pior de tudo é que, fugindo com espantosa rapidez, conseguiram embrenhar-se na mata próxima, na qual desapareceram.
Durante dias, todo o povo, desconsolado, além de fazer vigílias em desagravo pelo grande sacrilégio, vasculhou em vão a mata, na tentativa de recuperar a Sagrada Partícula. Nem mesmo o sr. Antônio, velho apicultor que conhecia cada palmo daquelas terras onde nascera e passara toda a sua vida, conseguiu encontrar sequer alguma pegada dos fugitivos.
O tempo passava e o povo, enlutado, temia algum castigo para a aldeia. Todos redobraram as orações, a frequência à Santa Missa e a participação nos outros atos de piedade da paróquia. O zeloso pároco chegou até a pensar que talvez a Divina Providência tivesse permitido o terrível acontecimento para afervorar toda aquela gente.
Também o sr. Antônio estava indo à Missa todos os dias, apesar das dificuldades: vivia longe, nos confins da aldeia, junto à mata por onde fugiram os sacrílegos ladrões; além disso, era idoso e de saúde delicada.

De família muito simples, ele herdara de seu pai um pequeno sítio e vivia de vender o mel produzido pelas laboriosas abelhas de seu apiário. Era um mel delicioso e muito apreciado em toda a região, sobretudo o de flores de laranjeira.
Viúvo e sem filhos, cuidava pessoalmente das colmeias, do pomar e do jardim. Entretinha-se em observar o trabalho das abelhas. Encantava-se ao ver como eram organizadas, disciplinadas e trabalhadeiras, como buscavam o néctar das flores, sobretudo no tempo da florada das laranjeiras, e o levavam para suas colmeias. De dia elas trabalhavam arduamente, zumbindo e voando por todos os lados, entrando nas caixas com as patinhas inchadas de pólen, e saindo com estas bem magrinhas, para buscar mais matéria-prima. À noite, dormiam tranquilamente. Não se ouvia então um zumbido sequer. Tudo perto das colmeias era escuridão e silêncio.
Mas, poucas semanas depois do roubo sacrílego, o sr. Antônio notou que alguma coisa estranha se passava no apiário. Numa das caixas, as abelhas entravam e saíam com mais frequência. E todas as abelhas das outras colmeias pareciam ter concentrado nela seu trabalho.
O atento ancião decidiu observar com mais cuidado o que acontecia. Vestiu seu uniforme protetor e entrou no apiário. Que curioso! Parecia sair de dentro daquela caixa um ruído muito suave e agradável, como se houvesse ali uma cachoeira, cuja água deslizasse suavemente até o chão.
Um fato ainda mais impressionante deu-se algum tempo depois. Era já noite quando, passeando pelo pomar, um enxame de abelhas começou a esvoaçar em torno de sua cabeça, como se quisesse comunicar-lhe algo.
— Que estranho isto! Abelhas voando e trabalhando a estas horas? — disse para si mesmo.
Aproximou-se do apiário e viu, com enorme espanto, que de uma colmeia saía uma luz de grande intensidade, e as abelhas nela entraram, como querendo dizer-lhe que aí havia alguma coisa.
Na manhã seguinte, aprontou-se rapidamente e, quase correndo, como permitiam seus anos, dirigiu-se à matriz para a Missa. Depois que o pároco expôs o Santíssimo, procurou-o na sacristia para contar-lhe os estranhos fatos ocorridos em sua colmeia.
— Isso me parece algo sobrenatural. Irei hoje mesmo ver o que está acontecendo — disse o sacerdote.
Ao anoitecer, ele foi até o sítio do sr. Antônio para ver a “colmeia luminosa”... Levou consigo o sacristão e o outro padre que o auxiliava na paróquia.
Aproximaram-se todos da colmeia especial do apiário. Curiosamente, as abelhas davam-lhes passagem, não lhes faziam mal. O pároco não podia acreditar no que via: de dentro daquela caixa saía uma luz esplendorosa.
Sem titubear, mandou o sr. Antônio abri-la. Este nem se protegeu com seu uniforme, pois as abelhas estavam tão mansas que resultavam inofensivas.
Aberta a caixa, oh! Maravilha!
Viram uma belíssima custódia feita de fina cera branca, toda filigranada, dentro da qual estava a Sagrada Hóstia roubada da igreja algumas semanas antes. E ao redor dela, as abelhas tranquilas, em atitude de adoração!
O pároco e seus acompanhantes ajoelharam-se para adorar também o Santíssimo Sacramento, e renderam graças a Deus pela maneira prodigiosa como aquelas criaturinhas irracionais fizeram um ato de reparação pelo sacrilégio que tanta dor havia causado aos habitantes da aldeia.
Sem demora, o pároco convocou os fiéis e organizou uma procissão à luz de tochas — da qual participaram em revoada as abelhas adoradoras do Santíssimo Sacramento — para conduzir à matriz a milagrosa custódia de cera contendo a Sagrada Hóstia.
Algum tempo depois, ela foi levada para uma capela construída especialmente a fim de se fazer adoração perpétua a Jesus Sacramentado. Conta-se que todos quantos iam aí pedir uma graça ou implorar a misericórdia de Deus saíam consolados, e muitos enfermos voltavam para casa completamente curados.

Mas o maior milagre continuava sendo a custódia de cera, colocada num belo relicário. E dia após dia os fiéis podiam ver muitas abelhas entrando pela janela e esvoaçando em torno do altar, como para render um ato de culto à Sagrada Eucaristia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário