domingo, 1 de novembro de 2015

A ORIGEM DAS PÉROLAS

Tombou Abel, assassinado pelo invejoso e cruel irmão.
Impulsionada pelo instinto materno, tentou Eva reanimar o filho morto, acariciando longamente seu corpo exânime.
Quando se convenceu de que Abel não despertava mais, desconsolada e aflita, caminhou longa jornada, até junto à praia do mar a olhar, assombrada, a extensão das águas até então desconhecidas. Nesse momento, afloraram-lhe aos olhos suas primeiras lágrimas. Uma após outra rolou silenciosamente pela face e foi cair sobre as pétalas de pequeninas flores, entre os rochedos.
Adão, que havia seguido ocultamente sua esposa, observava de longe, sem ser visto. Quando Eva se afastou, foi ver o que havia caído dos olhos chorosos da mulher e, encantado com a forma e o esplendor das gotas minúsculas, tomou-as, escondeu-as no interior de conchas e enterrou-as na areia.
Curioso, esperou o mar que Adão Adormecesse, ao cair da noite. Fez então um esforço titânico, cresceu, elevou-se, estendeu ondas de espuma até o tesouro escondido e recolheu feliz as conchas das lágrimas.
Mas as ondas, ao contato das lágrimas, que se fizeram pérolas, também choraram e até hoje se escuta sua voz plangente junto das praias.
E, quando o homem quer uma pérola, tem de escutar primeiro o pranto das vagas e descer depois à profundidade do mar, onde se ocultam ainda, em modestas conchas, as lágrimas de nossa primeira mãe.

Athalicio Pithan. Lendas e Alegorias - Ed Brasilia - Porto Alegre – RS – 1ª edição – 1945 - pág. 34

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