Em Maria Santíssima está a plenitude de graças e de
perfeições possíveis a uma mera criatura. Segundo a bela expressão de Santo
Antonino, “Deus reuniu todas as águas e chamou-as mar, reuniu todas as suas
graças e chamou-as Maria”.
Desde toda a eternidade, o decreto divino estabelecia o
singularíssimo privilégio de ser a Virgem Santíssima concebida livre da mancha
original. Privilégio este próprio Àquela que geraria em seu seio o próprio
Deus.
Entretanto, transcorrida sua vida nesta terra, o que
aconteceria com nossa Mãe? Ela, que havia dado à luz, alimentado e protegido o
Menino-Deus, e recebido em seus braços virginais o Corpo dilacerado de seu
Filho e Redentor, estava prestes a exalar o último suspiro. Como poderia passar
pelo transe da morte aquela Virgem Imaculada, nunca tocada pela mais leve
sombra de qualquer falta?
Sem embargo, como o suave declinar do sol num magnífico
entardecer, a Mãe da Vida rendia sua alma. Por que morria Maria? Tendo Ela
participado de todas as dores da Paixão de Jesus, não quis deixar de passar
pela morte, para em tudo imitar seu Deus e Senhor.
De que morreu
Maria?
O termo da existência terrena de Maria deveu-se à “força do
divino amor e ao veemente desejo de contemplação das coisas celestiais, que
consumiam seu coração” 1.
A Santíssima Virgem morreu de amor!
São Francisco de Sales assim descreve esse sublime acontecimento:
“Quão ativo e poderoso (...) é o amor divino! Nada de
estranho se vos digo que Nossa Senhora dele morreu, pois, levando sempre em seu
coração as chagas do Filho, padecia- as sem consumir-se, mas finalmente morreu
pelo ímpeto da dor. Sofria sem morrer, porém, por fim, morreu sem sofrer.
“Oh, paixão de amor! Oh, amor de paixão! Se seu Filho estava
no Céu, seu coração já não estava n’Ela. Estava naquele corpo que amava tanto,
ossos de seus ossos, carne de sua carne, e ao Céu voava aquela águia santa. Seu
coração, sua alma, sua vida, tudo estava no Céu: por que haviam de ficar aqui na
terra?
“Finalmente, após tantos vôos espirituais, tantos
arrebatamentos e tantos êxtases, aquele castelo santo de pureza e humildade
rendeu-se ao último assalto do amor, depois de haver resistido a tantos. O amor
A venceu, e consigo levou sua benditíssima alma” 2.
Essa morte de Maria, suave e bendita como um lindo
entardecer, a Igreja a designa pelo sugestivo nome de “dormição”, para
significar que seu corpo não sofreu a corrupção.
1) D. Alastruey, Tratado de
la Virgen Santísima, p. 414.
2) São Francisco de Sales, Obras Selectas, B.A.C., p. 480.
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