Como obter o perdão da pena
temporal e adequar os critérios, a fim de se estar pronto para ver a Deus? Na
vida terrena podemos alcançar isto mediante a aquisição dos méritos que nos
advêm das boas obras — penitências, orações, atos de misericórdia, etc. — ou
pelas indulgências que a Igreja nos concede, pois, “usando de seu poder de
administradora da Redenção de Cristo Senhor, […] por sua autoridade abre ao
fiel convenientemente disposto o tesouro das satisfações de Cristo e dos
Santos”.1
No caso de terem sido
desdenhados estes meios, torna-se necessária a existência do Purgatório para,
post mortem, “purificar [a alma] das sequelas do pecado”2 e obter a remissão da
pena, como diz São Tomás,3 pagando durante um período a dívida imposta pela
ofensa à consciência e à ordem do universo. “É portanto necessário” — continua
o ensinamento da Igreja — “para o que se chama plena remissão e reparação dos
pecados não só que, graças a uma sincera conversão, se restabeleça a amizade
com Deus e se expie a ofensa feita à sua sabedoria e bondade, mas também que
todos os bens, ou pessoais ou comuns à sociedade ou relativos à própria ordem
universal, diminuídos ou destruídos pelo pecado, sejam plenamente restaurados”.
4
O reformatório de nosso egoísmo
Desejando, pois, que entremos
no convívio com Ele sem mancha alguma, puros e perfeitos — porque lá “não
entrará nada de profano nem ninguém que pratique abominações e mentiras” (Ap
21, 27) —, Deus criou o Purgatório, à maneira de reformatório do nosso egoísmo,
onde este é queimado no fogo e somos reeducados na verdadeira visualização de
todas as coisas e no amor à virtude. Concluído este período, nossa alma está
santificada e, por isso, pode-se afirmar que todos os que estão no Céu são
santos.
Esta também é a razão pela qual
quem já houver alcançado a santidade aqui na Terra não passe pelo Purgatório
ou, em certos casos, apenas muito rapidamente para fazer, por exemplo, uma
genuflexão, como se conta ter acontecido a Santa Teresa de Ávila. Ou então como
São Severino, Arcebispo de Colônia, que, apesar de haver consumido seus anos em
fecundas obras de apostolado pela expansão do Reino de Deus, foi obrigado a
permanecer seis meses no Purgatório a fim de expiar seu pouco recolhimento na
recitação do Breviário.5
1 PAULO VI, Indulgentiarum
doctrina, n.8.
2 SÃO TOMÁS
DE AQUINO. Super Sent. L.IV, ap.1, a.2, ad 2.
3 Cf. Idem,
a.1.
4 PAULO VI,
op. cit., n.3.
5 Cf.
LOUVET. Le Purgatoire d’après les révélations des saints.
3.ed. Albi: Apprentis-orphelins, 1899, p.130-131
Mons João Clá Dias –Comentários
ao Evangelho - texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n 155 – nov 2014
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