terça-feira, 24 de novembro de 2015

A razão da existência do Purgatório

Como obter o perdão da pena temporal e adequar os critérios, a fim de se estar pronto para ver a Deus? Na vida terrena podemos alcançar isto mediante a aquisição dos méritos que nos advêm das boas obras — penitências, orações, atos de misericórdia, etc. — ou pelas indulgências que a Igreja nos concede, pois, “usando de seu poder de administradora da Redenção de Cristo Senhor, […] por sua autoridade abre ao fiel convenientemente disposto o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos”.1
No caso de terem sido desdenhados estes meios, torna-se necessária a existência do Purgatório para, post mortem, “purificar [a alma] das sequelas do pecado”2 e obter a remissão da pena, como diz São Tomás,3 pagando durante um período a dívida imposta pela ofensa à consciência e à ordem do universo. “É portanto necessário” — continua o ensinamento da Igreja — “para o que se chama plena remissão e reparação dos pecados não só que, graças a uma sincera conversão, se restabeleça a amizade com Deus e se expie a ofensa feita à sua sabedoria e bondade, mas também que todos os bens, ou pessoais ou comuns à sociedade ou relativos à própria ordem universal, diminuídos ou destruídos pelo pecado, sejam plenamente restaurados”. 4
O reformatório de nosso egoísmo
Desejando, pois, que entremos no convívio com Ele sem mancha alguma, puros e perfeitos — porque lá “não entrará nada de profano nem ninguém que pratique abominações e mentiras” (Ap 21, 27) —, Deus criou o Purgatório, à maneira de reformatório do nosso egoísmo, onde este é queimado no fogo e somos reeducados na verdadeira visualização de todas as coisas e no amor à virtude. Concluído este período, nossa alma está santificada e, por isso, pode-se afirmar que todos os que estão no Céu são santos.
Esta também é a razão pela qual quem já houver alcançado a santidade aqui na Terra não passe pelo Purgatório ou, em certos casos, apenas muito rapidamente para fazer, por exemplo, uma genuflexão, como se conta ter acontecido a Santa Teresa de Ávila. Ou então como São Severino, Arcebispo de Colônia, que, apesar de haver consumido seus anos em fecundas obras de apostolado pela expansão do Reino de Deus, foi obrigado a permanecer seis meses no Purgatório a fim de expiar seu pouco recolhimento na recitação do Breviário.5
1 PAULO VI, Indulgentiarum doctrina, n.8.
2 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Super Sent. L.IV, ap.1, a.2, ad 2.
3 Cf. Idem, a.1.
4 PAULO VI, op. cit., n.3.
5 Cf. LOUVET. Le Purgatoire d’après les révélations des saints. 3.ed. Albi: Apprentis-orphelins, 1899, p.130-131


Mons João Clá Dias –Comentários ao Evangelho - texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n 155 – nov 2014

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